Plataforma AdaptaBrasil apresenta dados inéditos sobre riscos climáticos para ferrovias e rodovias federais
Fonte: MCTI
Pela primeira vez, mais de 100 mil km de rodovias e ferrovias federais brasileiras foram objeto de avaliação sobre riscos climáticos. O levantamento apresentado nesta quarta-feira (18), em Brasília (DF), considerou os principais impactos diretos na infraestrutura de transporte em todo o território brasileiro. Os mapas de risco climático estão disponíveis no AdaptaBrasil MCTI para subsidiar a elaboração de planos de adaptação à mudança do clima. Os dados apoiarão o Ministério dos Transportes na elaboração de estratégias para a agenda setorial de adaptação.
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), os sistemas de transportes são projetados com base em padrões climáticos históricos. Contudo, a rápida alteração desses padrões está provocando danos e prejuízos à infraestrutura e reduzindo a eficiência das operações de transporte. Além disso, os impactos diretos na infraestrutura afetam o deslocamento das pessoas e aumenta a probabilidade de acidentes.
“Não há dúvida que a mudança climática é um processo em curso e a humanidade tem pouco tempo para reverter”, alertou o diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Osvaldo Moraes, destacando a necessidade e a urgência da adoção de medidas de adaptação à mudança do clima no Brasil.
O transporte no Brasil é dependente do modal terrestre. As rodovias respondem por 68,5%, com uma malha e 79,6 mil km, sendo 87% pavimentadas e 11,4 mil sob concessão. As ferrovias constituem o segundo modal mais utilizado para cargas. Segundo dados de 2021 do Departamento Nacional de Transportes (DNIT), a malha ferroviária é de 30 mil km.
O estudo mapeou os riscos atuais de impactos associados ao clima, considerando a média climatológica do período de 1981 a 2000, e projetou os riscos para o futuro em cenários abrangendo horizontes de curto prazo, de 2026 a 2045, e de médio prazo, de 2046 até 2065. As projeções consideraram cenários de emissões de gases de efeito estufa nos níveis intermediário e alto. Para estimar as incertezas, considerou-se uma abordagem de multi-modelos que incluiu 13 modelos globais de clima.
A avaliação considerou como os principais impactos para a malha terrestre os deslizamentos, a erosão, as altas temperaturas, os alagamentos e inundações, as queimadas e incêndios. Para cada um dos impactos houve seleção de indicadores climáticos, como número de dias com chuva superior a 50 mm, intensidade de precipitação, ondas de calor, dias consecutivos secos, entre outros fatores. Além disso, o desenvolvimento dos indicadores de risco climático, considerou as dimensões de exposição e vulnerabilidade, como aspectos físicos das infraestruturas e do terreno.
Maior risco climático
Os resultados mostram que os trechos de ferrovias brasileiras com maiores riscos climáticos em decorrência de deslizamento, erosão e altas temperaturas estão localizados no Sudeste e no eixo Norte-Nordeste, envolvendo a estradas de ferro Vitória a Minas, Minas - Rio, e Carajás. O impacto direto devido às altas temperaturas também inclui um trecho de ferrovia Porto Alegre-Uruguaiana, entre Cacequi e Dilermando de Aguiar, no Rio Grande do Sul.
Em relação às rodovias federais, o estudo aponta variações de impactos de acordo com os cenários. Para alagamentos ou inundações, alguns trechos de vias no Pará e no Maranhão, além de partes de rodovias no litoral do Nordeste, apresentam nível médio de risco climático no cenário base. Considerando a projeção de altas emissões de GEE, há aumento do número de rodovias com nível médio de risco climático, em especial nas regiões Sul e Sudeste.
Para deslizamento, em todos os cenários e horizontes avaliados, os maiores níveis de risco climático estão localizados nas regiões Sul e Sudeste, como a Serra do Mar e a Serra Geral, no litoral do Nordeste, e no Pará, na Região Norte.
Os trechos com maior risco de erosão se concentram nas rodovias no Pará e nos estados do Sul e do Nordeste, em especial no litoral na BR-101. Os trechos com médio risco de risco impacto decorrente de queimadas representam 65,3% em curto prazo (2026- 2045) e 62,6% em médio prazo (2046-2065) em um cenário de altas emissões.
Os trechos rodoviários que apresentam os maiores riscos devido ao impacto direto das altas temperaturas localizam-se no interior de todas as regiões do País. O Rio Grande do Sul apresenta suas rodovias sob médio risco para todos os cenários considerados.
O estudo também aponta medidas de adaptação estruturais e não estruturais e soluções baseadas na natureza para reduzir a vulnerabilidade e a exposição, e para gerenciar riscos.
Segundo o climatologista Lincoln Alves, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao MCTI, a inserção do conjunto complexo de informações na plataforma AdaptaBrasil permite que gestores, do setor público ou privado, e a sociedade acessem os dados de modo mais simples e consigam avaliar o risco da mudança do clima sobre os modais. Os dados são importantes para o planejamento estratégico atual e o futuro e a perspectiva de aumento da malha. “O transporte terrestre é um carro-chefe no Brasil especialmente para o setor de logística, como o transporte de alimentos. Por isso, é fundamental ter o conhecimento sobre a vulnerabilidade do setor frente à realidade da mudança do clima”, ressaltou.
O trabalho foi realizado por meio do Projeto AdaptaVias, um esforço empreendido pelo Ministério dos Transportes, com apoio da agência alemã de cooperação internacional Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) no Brasil, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O projeto é executado pelo Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ e Gitec Brasil.
Para o subsecretário de sustentabilidade do Ministério dos Transportes, Clóvis Benevides, o clima se impõe na agenda de resiliência e adaptação de infraestrutura e que o atual cenário de mudança do clima nos coloca em um “processo de absoluta urgência na tomada de decisões”. “Decisões mais precisas, mais objetivas na definição de novos caminhos, na mitigação dos impactos, mas na capacidade ainda pouco objetiva das políticas públicas de trabalhar com perspectiva de predição, de antecipação de cenários, de olhar consolidado para o setor”, afirma Benevides.
A apresentação do estudo na íntegra pode ser vista neste link e fotos do evento neste link. Para acessar os dados, visite as páginas dos Setores Estratégicos de Infraestrutura Rodoviária e Infraestrutura Ferroviária.