Infraestrutura rodoviária

No Brasil, o setor de transporte é fortemente dominado pelo modal rodoviário, que possui uma abrangência territorial significativamente maior do que outros meios de transporte. 

Um levantamento feito pelo Ministério dos Transportes indica que mais de dois terços (68,5%) do transporte no país ocorre através de rodovias.

Segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, a extensão total da malha rodoviária federal, excluindo vias em planejamento, é de 79.634 km. Destes, 69.473 km (87%) são rodovias pavimentadas, enquanto 10.161 km (13%) são rodovias não pavimentadas.

Ou seja, o setor rodoviário é muito importante para a economia brasileira. Devido à sua capacidade de conectar regiões remotas e urbanas, as rodovias desempenham um papel crucial no transporte de cargas e de pessoas, proporcionando flexibilidade, rapidez e contribuindo para o desenvolvimento econômico regional.  

Por conta de sua importância, é fundamental entender quais são os riscos que ameaçam a operacionalidade e a segurança da infraestrutura rodoviária. Entre as grandes ameaças que podem impactar este setor, destacam-se os riscos impostos pelas mudanças climáticas.

Em uma análise feita pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) sobre os grandes riscos que ameaçam o setor logístico brasileiro, 92% dos entrevistados  acreditam que eventos climáticos extremos devem afetar o transporte de cargas. Além disso, 48% afirmam que o risco climático é alto, e 46% indicam que o risco climático é extremamente alto para a infraestrutura de transporte.

Como as mudanças climáticas ameaçam as rodovias?

Os efeitos das mudanças climáticas impactam diretamente a qualidade, segurança, eficiência e longevidade das rodovias. 

  • Eventos climáticos extremos, como tempestades e enchentes, podem danificar rodovias e pontes, interrompendo o transporte e causando prejuízos econômicos. 
  • Tais eventos podem acelerar o desgaste das rodovias, aumentar os custos de manutenção e comprometer a segurança viária. 
  • Os impactos financeiros também são significativos, exigindo investimentos substanciais em adaptações e medidas de mitigação. 

Portanto, compreender esses riscos e buscar medidas de adaptação para enfrentá-los é essencial para garantir a resiliência, a segurança e a sustentabilidade da infraestrutura rodoviária diante dos desafios climáticos.

Análise dos riscos climáticos sobre a infraestrutura rodoviária brasileira

Com o objetivo de mapear os principais riscos e vulnerabilidades do transporte terrestre no Brasil em relação às mudanças climáticas, bem como orientar as medidas de adaptação a serem implementadas, o Ministério dos Transportes realizou um estudo inédito que analisou mais de 100 mil km de rodovias e ferrovias federais brasileiras, o AdaptaVias.

O estudo avalia as  projeções de riscos climáticos até o ano de 2065, considerando dois cenários distintos: um cenário de emissões intermediárias e um de emissões altas. Cada cenário abrange períodos de curto prazo (de 2026 a 2045) e médio prazo (de 2046 a 2065).

O AdpataVIAS identificou que as mudanças climáticas podem afetar a infraestrutura de transporte rodoviário por meio dos seguintes tipos de impacto:

  • Alagamentos e inundações
  • Queimadas e incêndios
  • Deslizamentos
  • Erosão
  • Altas temperaturas

Para cada tipo de impacto, foram elaborados os Índices de Risco Climático, que consideram fatores relacionados à ameaça climática, exposição e vulnerabilidade da infraestrutura, incluindo sensibilidade e capacidade adaptativa. O Índice de Risco Climático permitiu a classificação dos riscos em diferentes níveis – de muito alto a muito baixo. 

Impactos devido a alagamentos e inundações

Quanto aos riscos de alagamento e inundação, a maioria das rodovias apresentou níveis muito baixos ou baixos de Índice de Risco Climático durante o período base analisado (1981-2000), com exceções em algumas áreas específicas do Pará, Maranhão e partes do litoral nordestino, que mostraram níveis médios de risco. 

Esses níveis de Índice de Risco Climático são resultado da exposição e vulnerabilidade da infraestrutura, com destaque para trechos da BR-116 e BR-381, que têm um alto volume diário de veículos, e trechos da BR-163, no Pará, devido à sensibilidade da infraestrutura e do meio ambiente. 

Entre o período base e os cenários de emissões intermediárias no curto e médio prazos houve variações sutis. Contudo, no cenário de altas emissões, prevê-se um aumento do número de rodovias com níveis médios de risco climático, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. 

No curto prazo (2046-2065), sob o cenário de altas emissões, a maioria das rodovias (84,1%) permaneceu em nível baixo de risco, embora tenha sido observado um aumento nos trechos com nível médio, devido a uma maior ameaça climática.

Impactos devido a deslizamentos

As rodovias com os maiores níveis risco climático devido a deslizamentos, em todos os cenários e períodos analisados no AdaptaVias, estão concentradas nas regiões Sul e Sudeste (como na Serra do Mar e Serra Geral), além das rodovias litorâneas do Nordeste. 

Na Região Norte, somente a BR-230 (Altamira-Marabá), no Pará, se destaca nessa situação, devido a um nível médio de ameaça climática e de alta vulnerabilidade. 

É importante ressaltar que o risco de deslizamento é fortemente influenciado pela vulnerabilidade, especialmente em regiões propensas a essas ocorrências, como nas áreas mais acidentadas do Sudeste e Sul (Serra do Mar e Serra Geral) e nos litorais de Pernambuco e Alagoas. 

Em geral, ao considerar diferentes cenários de emissões e períodos de tempo, observa-se um aumento nas áreas com risco médio. Especialmente no cenário de altas emissões no horizonte de médio prazo (2046-2065), abrangendo praticamente toda a Região Sul e estados como Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, além do litoral correspondente à BR-101.

 

Impactos devido à erosão

Quando se trata do impacto relacionado à erosão, que está intimamente ligado ao uso do solo, os trechos com Índice de Risco Climático mais significativos são encontrados principalmente:

  • Nas rodovias do Pará; 
  • Nos estados da região Sul;
  • E em segmentos das rodovias no Nordeste, especialmente na região costeira (BR-101), onde há um risco médio de impacto na infraestrutura rodoviária. 

Esses resultados estão diretamente relacionados à vulnerabilidade à erosão, que é predominantemente média ou alta em quase todas as rodovias, com destaque para a BR-163, no Pará, que abriga muitos trechos com níveis altos e muito altos de vulnerabilidade à erosão.

Além disso, ao se comparar os cenários de emissões intermediárias e altas com o período base, nota-se um aumento do risco climático médio em todo o território brasileiro, devido ao aumento do nível de impacto da ameaça climática

Nestes cenários, outros trechos com Índice de Risco Climático médio são observados no litoral do Nordeste, assim como em partes dos estados do Acre, Rondônia, Pará e Maranhão.

Impactos devido a queimadas e incêndios

Para o período base, o IRC relacionado a queimadas e incêndios é baixo em 68,1% da extensão total da malha rodoviária brasileira. No entanto, 31,9% das rodoivas apresentam risco médio, concentrando-se principalmente no interior do Nordeste brasileiro (Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e sertão da Bahia), além de partes do Norte (Tocantins e Pará). 

Quanto à vulnerabilidade a queimadas e incêndios, as rodovias com nível alto e/ou muito alto de ameaça climática encontram-se predominantemente nos estados do Maranhão, Piauí e Pará. 

Nos cenários de emissões intermediárias e altas, dentro dos diferentes horizontes (de curto a longo prazo), é possível verificar que há um aumento dos trechos com risco.

Esse aumento é especialmente significativo nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, onde os impactos das ameaças climáticas crescem conforme o horizonte temporal e os diferentes cenários de emissões. No cenário de altas emissões e médio prazo (2046-2065), 50,5% dos trechos apresentam nível baixo de risco, enquanto 49,5% apresentam nível médio.

Impactos diretos das altas temperaturas

Em relação aos impactos diretos das altas temperaturas nas rodovias, observa-se que, ao contrário dos outros impactos analisados, já no período base há uma predominância de trechos com risco médio (63,2%). 

Isso ocorre devido ao fato de que cerca de 60% dos trechos rodoviários apresentam um nível alto ou muito alto de ameaça climática, tanto no período base quanto nos cenários futuros. 

  • Os trechos rodoviários com os maiores riscos devido às altas temperaturas estão localizados no interior, distribuídos por todas as regiões do país. 
  • Por outro lado, as rodovias situadas no litoral apresentam baixo risco em todos os cenários e horizontes temporais. 
  • No Sul do país, destaca-se o estado do Rio Grande do Sul, cujas rodovias têm um risco médio em todos os cenários considerados. 

Quanto à vulnerabilidade às altas temperaturas, ficam em evidência os estados do Rio Grande do Sul, com muitos trechos de nível médio de ameaça climática, e do Pará, com trechos rodoviários de nível alto e muito alto

E ainda, a ameaça climática às rodovias por conta das altas temperaturas apresenta níveis mais elevados de risco no interior do país.  

Vale ressaltar que, considerando o cenário de emissões intermediárias, a proporção de rodovias com risco médio diminui para 50,3% no curto prazo (2026-2045) e aumenta para 67,4% no médio prazo (2046-2065). Já para o cenário de altas emissões, 65,3% das rodovias podem apresentar risco médio no curto prazo (2026-2045).

Medidas de adaptação climática para as rodovias

Visando mitigar os impactos da mudança do clima na infraestrutura rodoviária, o AdaptaVias propõe tanto medidas de adaptação estruturais quanto não estruturais.

Tais medidas visam aumentar a resiliência da infraestrutura rodoviária e promover a adaptação das rodovias frente às mudanças climáticas, abordando aspectos de planejamento, parcerias, capacitação e integração com o meio ambiente.

Entre as medidas estruturais propostas estão:

  • Utilização de materiais de melhor qualidade e resistentes à erosão.
  • Ajuste na frequência de manutenção e limpeza periódica da rede de drenagem próxima a rodovias.
  • Instalação de proteção rígida, que fornece uma barricada contra a entrada de água.
  • Implementação de medidas de controle de erosão nas margens de rodovias.
  • Instalação de drenagem melhorada nas interseções.
  • Aumento da redundância em sistemas elétricos.
  • Realização de plantio de vegetação ao longo das vias para diminuir a exposição das rodovias à erosão.
  • Melhoria da gestão nas planícies de inundação.
  • Construção de infraestrutura redundante.
  • Adaptação dos padrões de construção para os novos eventos climáticos.

Entre as propostas de medidas não estruturais, destacam-se:

  • Incentivo à utilização de novas tecnologias, como sistemas de drenagem sustentáveis, que reduzirão os riscos de inundações existentes e futuros.
  • Estabelecimento de parcerias público-privadas para a implementação de adaptação e resiliência.
  • Promoção de maior envolvimento do setor de transportes nas questões de adaptação à mudança do clima, por meio de capacitação e disseminação de informações.
  • Elaboração de estudos e pesquisas sobre a relação da mudança do clima com a vulnerabilidade da infraestrutura de transportes, visando a subsidiar as políticas públicas, o planejamento e a identificação de soluções para o setor.
  • Melhoria do planejamento espacial integrado em relação aos alinhamentos de rodovias para garantir que os ecossistemas críticos adjacentes (que servem como amortecedores contra inundações, erosões, aumentos de temperaturas, entre outros) sejam mantidos e protegidos.
  • Avaliação da possibilidade de existência de cobenefícios e sinergias entre mitigação e adaptação relacionadas às diferentes alternativas aplicadas ao setor de transportes.

Quer entender melhor os impactos climáticos nas rodovias brasileiras?

Acesse a página do AdaptaBrasil MCTI com os Índices e Indicadores de Infraestrutura Rodoviária para os impactos de Alagamento e inundação; Deslizamento; Erosão; Queimada e Temperatura das rodovias do Estudo AdaptaVias. 

Para ter acesso a mais informações sobre o estudo e sobre as medidas propostas, leia o Sumário Executivo do Levantamento de Impactos e Riscos Climáticos sobre a Infraestrutura Federal de Transporte Terrestres (Rodoviário E Ferroviário) Existente e Projetada.