Infraestrutura ferroviária

O setor ferroviário desempenha um papel vital na economia brasileira, oferecendo uma alternativa eficiente e econômica para o transporte de cargas e contribuindo para o desenvolvimento regional. 

As ferrovias são o segundo meio mais utilizado para o transporte de cargas no país, ficando atrás apenas das rodovias. 

De acordo com o Ministério dos Transportes, o setor ferroviário representa cerca de 15,1% da divisão modal. Dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) de 2021 revelam que a extensão total da malha ferroviária federal chega a 30.660 km.

Em meio à intensificação das mudanças climáticas, é importante entender que aumenta também a vulnerabilidade dessa infraestrutura a médio e longo prazo. 

Como as mudanças climáticas ameaçam as ferrovias

Por conta de sua infraestrutura abrangente, as ferrovias estão expostas a uma série de riscos decorrentes das mudanças climáticas.  

Deslizamentos de solo, erosão, inundações e outros impactos biofísicos causados por ameaças climáticas como chuvas intensas, prolongadas, elevação do nível do mar e ondas de calor são alguns dos problemas enfrentados pela infraestrutura ferroviária. 

Tais impactos provocam danos como deformação dos trilhos, alterações na catenária e desgaste dos leitos das ferrovias, que estão se tornando cada vez mais comuns.

Os efeitos das ameaças climáticas representam ainda desafios significativos para o setor ferroviário, pois podem causar interrupções no serviço e aumento dos custos operacionais, além de afetar a vida útil e a segurança dessa infraestrutura.

Análise dos riscos climáticos sobre a infraestrutura ferroviária brasileira

Com o objetivo de mapear os principais riscos e vulnerabilidades do transporte terrestre no Brasil em relação às mudanças climáticas, bem como orientar as medidas de adaptação a serem implementadas, o Ministério dos Transportes realizou um estudo inédito que analisou mais de 100 mil km de rodovias e ferrovias federais brasileiras – o AdaptaVias.

O estudo projeta os riscos climáticos até o ano de 2065, considerando dois cenários distintos: um cenário de emissões intermediárias e um de emissões altas. Cada cenário abrange períodos de curto prazo (de 2026 a 2045) e médio prazo (de 2046 a 2065).

O AdaptaVias identificou que as mudanças climáticas podem afetar a infraestrutura de transporte ferroviário por meio de:

  • Impactos devido a deslizamentos;
  • Impactos devido à erosão;
  • E impactos diretos devido a altas temperaturas.

Para avaliar os riscos em cada uma dessas áreas, foram desenvolvidos indicadores referentes à intensidade de chuva e calor.

Para cada um dos impactos, foram elaborados os Índices de Risco Climático, que consideram fatores relacionados à ameaça climática, exposição e vulnerabilidade da infraestrutura, incluindo sensibilidade e capacidade adaptativa. O  Índice de Risco Climático permite classificar os riscos em diferentes níveis – de muito alto a muito baixo. 

Impactos de deslizamentos nas ferrovias

Considerando os impactos relacionados aos deslizamentos, o  Índice de Risco Climático da infraestrutura ferroviária demonstrou níveis altos e muito altos na Região Sudeste, com foco em áreas específicas, tais como: 

  • São Paulo (Estrada de Ferro do Litoral, operada pela MRS Logística);
  • Minas Gerais/Rio de Janeiro (Estrada de Ferro Minas x Rio, operada pela MRS Logística);
  • Espírito Santo/Minas Gerais (Estrada de Ferro Vitória a Minas, operada pela Vale S.A).

Além disso, há um alto risco de deslizamento causado pelas ameaças climáticas também na região Norte/Nordeste, particularmente no eixo Pará-Maranhão, onde se destaca a Estrada de Ferro Carajás, operada pela Vale S.A.

Segundo o estudo, o Índice de Risco Climático relacionado aos deslizamentos são principalmente determinados pela exposição e vulnerabilidade das ferrovias. Nesse sentido, destacam-se as ferrovias com alto tráfego (especialmente aquelas associadas ao transporte de minerais) e áreas vulneráveis, como regiões com alta carga de transporte e suscetíveis a deslizamentos, como a Serra do Mar. 

A ameaça climática dos deslizamentos é alta apenas em trechos das ferrovias litorâneas de São Paulo, com alguns trechos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina apresentando níveis médios de ameaça. 

No entanto, a análise do Ministério dos Transportes indica que há uma tendência de aumento das ferrovias sob risco médio, alto ou muito alto devido aos deslizamentos, à medida que mudam os cenários de emissões ou horizontes temporais, com mudanças menos significativas nos cenários e horizontes.

Impactos de erosão nas ferrovias

Quanto aos impactos causados pela erosão, observa-se uma concentração de trechos com altos níveis de risco em regiões específicas, incluindo:

  • Pará/Maranhão (Estrada de Ferro Carajás, operada pela Vale S.A);
  • Rio de Janeiro/Minas Gerais (Estrada de Ferro Minas x Rio, operada pela MRS Logística);
  • Espírito Santo/Minas Gerais (Estrada de Ferro Vitória a Minas, operada pela Vale S.A).

Assim como os impactos de deslizamentos, o que mais influencia os níveis de risco de erosão é a exposição e a vulnerabilidade das ferrovias.

A ameaça climática de erosão apresentou nível baixo em quase a totalidade do país (98,2%). Contudo, nas projeções futuras, aproximadamente 60% da malha ferroviária apresenta níveis médios de ameaça climática.

O AdaptaVias aponta ainda que uma diferença significativa é observada entre o período atual e os cenários futuros. Isso se deve principalmente às mudanças na ameaça climática ao longo do tempo.

Entre o período atual e os cenários futuros, observa-se um aumento de 27% na extensão das ferrovias que enfrentam um risco climático médio. Por exemplo, enquanto no período atual apenas 1,4% dos trechos apresentavam esse nível de risco, esse número aumenta para 59,8% no cenário de altas emissões em um horizonte de médio prazo (2046-2065).

Essa mudança significativa ressalta a importância de se considerar as projeções climáticas futuras ao planejar e desenvolver estratégias de adaptação e resiliência para a infraestrutura ferroviária, visando mitigar os impactos adversos das mudanças climáticas.

Impactos das altas temperaturas nas ferrovias

Na análise dos impactos diretos das altas temperaturas na infraestrutura ferroviária federal brasileira, os maiores  Índices de Risco Climático foram observados na Região Sudeste.

Entre as ferrovias com maiores riscos de sofrerem impactos das altas temperaturas, destacam-se:

  • As ferrovias que conectam Minas Gerais ao Espírito Santo (Estrada de Ferro Vitória a Minas, operada pela Vale S.A), com trechos que possuem níveis altos e muito altos de risco;
  • As ferrovias que ligam Minas Gerais ao Rio de Janeiro (Estrada de Ferro Minas x Rio, operada pela MRS Logística), que apresentam trechos com níveis de risco médios e altos;
  • Na região Norte/Nordeste, o eixo Pará-Maranhão (Estrada de Ferro Carajás, operada pela Vale S.A) também se destaca, com trechos classificados como de risco alto e médio;
  • Na região Sul, o trecho entre Cacequi e Dilermando de Aguiar (Estrada de Ferro Porto Alegre-Uruguaiana), no Rio Grande do Sul, apresenta trechos com níveis altos e médios de risco climático.

Para avaliar o risco decorrente das altas temperaturas nas ferrovias, foram consideradas a exposição e a vulnerabilidade da infraestrutura, bem como suas características específicas – tráfego, localização e tipo de material utilizado na construção.

O AdaptaVias aponta que há elevado nível de ameaça climática nas ferrovias situadas no estado do Rio Grande do Sul, especificamente no trecho entre Uruguaiana e Santa Maria (Estrada de Ferro Porto Alegre-Uruguaiana). Por conta disso, essa região está entre aquelas com os maiores Índices de Risco Climático em relação aos impactos diretos das altas temperaturas.

A análise indica que nas projeções futuras, à medida que os cenários de emissões aumentam, deve haver uma redução dos trechos ferroviários com baixo risco climático e aumento das áreas com risco médio e muito alto por causa das altas temperaturas.

Além disso, as projeções também indicam aumento da ameaça climática especialmente na Região Centro-Oeste do Brasil e em alguns estados das regiões Sudeste e Nordeste, assim como no nordeste do estado de São Paulo (Estrada de Ferro Noroeste do Brasil) e em partes dos estados de Minas Gerais e Bahia (Estrada de Ferro Bahia-Minas FCA 116). 

Medidas de adaptação climática para as ferrovias

As medidas de adaptação propostas pelo AdaptaVias para as ferrovias incluem tanto medidas estruturais quanto não estruturais, visando mitigar os impactos da mudança do clima na infraestrutura ferroviária. 

Algumas das medidas estruturais propostas incluem:

  • Uso de musgo e líquens para controle de erosão.
  • Gerenciamento da vegetação para melhorar a estabilidade da inclinação dos taludes.
  • Realização de monitoramento e manutenção regulares da via e do leito da via.
  • Alteração do procedimento de instalação do trilho, para aumentar o limite de temperatura para a expansão térmica.
  • Prevenção combinada da erosão, como revestimentos, blocos de concreto e estacas de madeira com vegetação; toras, paredes de toras ou madeira morta; entre outros.
  • Estabilização biotécnica para aprimorar estruturas de engenharia cinza.
  • Incentivo ao uso de novas tecnologias, como sistemas de drenagem sustentáveis, que reduzem os riscos de inundações existentes e futuros.

Além disso, são propostas medidas não estruturais, como:

  • Estabelecimento de parcerias público-privadas para a implementação de adaptação e resiliência.
  • Promoção de maior envolvimento do setor de transportes nas questões de adaptação à mudança do clima, por meio de capacitação e disseminação de informações.
  • Elaboração de estudos e pesquisas sobre a relação da mudança do clima com a vulnerabilidade da infraestrutura de transportes, visando a subsidiar as políticas públicas, o planejamento e a identificação de soluções para o setor.
  • Melhoria do planejamento espacial integrado em relação aos alinhamentos de ferrovias para garantir que os ecossistemas críticos adjacentes, que servem como amortecedores contra inundações, erosões, aumentos de temperaturas, entre outros, sejam mantidos e protegidos.

Tais medidas visam aumentar a resiliência da infraestrutura ferroviária e reduzir os impactos de eventos climáticos extremos.

Quer saber mais sobre os impactos climáticos nas ferrovias brasileiras?

Acesse a página do AdaptaBrasil com os Índices e Indicadores de Infraestrutura Ferroviária para os impactos de Deslizamentos, Erosão e Temperatura das ferrovias do Estudo AdaptaVias. 

Para mais informações sobre o estudo e sobre as medidas propostas, baixe o Sumário Executivo do Levantamento de Impactos e Riscos Climáticos sobre a Infraestrutura Federal de Transporte Terrestres (Rodoviário E Ferroviário) Existente e Projetada