Entendendo os cenários “Otimista” e “Pessimista” do AdaptaBrasil MCTI
Em alguns casos, ao selecionar Projeção 2030 ou Projeção 2050 no AdaptaBrasil MCTI e comparar os cenários “Pessimista” e “Otimista”, pode parecer que o cenário “Pessimista” é melhor do que o cenário “
Ponto de partida: os cenários RCP4.5 e RCP8.5
Cenários de mudanças climáticas são projeções para o sistema climático da Terra, incluindo alterações na temperatura, precipitação e outras variáveis.
Os dois cenários comumente utilizados são o RCP4.5 e o RCP8.5, que representam caminhos diferentes para emissões de gases de efeito estufa e são usados para explorar os impactos potenciais de diferentes níveis de mudança climática.
- RCP4.5: representa um nível mais baixo de emissões de gases de efeito estufa e um cenário de mudança climática mais moderado.
- RCP8.5: representa um nível mais alto de emissões e um cenário de mudança climática mais severo.
Na prática, uma das principais diferenças entre eles é o nível de aquecimento esperado para o final do século XXI: o RCP8.5 projeta um grau de aquecimento muito maior do que o RCP4.5.
No entanto, quando se trata de dados de precipitação, as diferenças entre estes cenários geralmente são menores que as diferenças apresentadas nas projeções de temperatura.
Isso acontece porque a precipitação é influenciada por um conjunto complexo de fatores além da temperatura, incluindo padrões de circulação atmosférica e distribuição de fontes de umidade.
Mas existem outras diferenças nas projeções de precipitação entre esses cenários.
Em geral, o RCP8.5 tende a projetar um pouco mais de precipitação em algumas regiões em relação ao RCP4.5, sendo estas particularmente em latitudes mais altas e em algumas partes dos trópicos (regiões costeiras).
Além disso, o RCP8.5 estima maior frequência e intensidade de eventos extremos de precipitação. No entanto, as diferenças entre estes cenários são menos evidentes na precipitação média do que as diferenças apresentadas nas projeções de temperatura.
Cenários não são previsões
Embora cenários sejam ferramentas úteis para explorar possíveis impactos futuros das mudanças climáticas, eles não são previsões do que realmente acontecerá. A trajetória real das emissões e mudanças climáticas depende de uma ampla gama de fatores (incluindo desenvolvimentos sociais e tecnológicos) e é inerentemente incerta.
Um exemplo prático sobre os diferentes cenários do AdaptaBrasil
Para ilustrar essa questão, vamos usar um exemplo real de uma dúvida que recebemos.
Pergunta: Estou coletando dados na plataforma AdaptaBrasil e não pude deixar de notar que, para todas as projeções, os cenários pessimistas demonstram ser mais positivos que as projeções para os cenários otimistas. Envio uma foto de um exemplo para que você consiga visualizar:
Resposta técnico-científica, por George Pedra
A Figura 1 apresenta o Índice de Risco ao Impacto para Seca para o período de 2030 (2021-2040). A imagem mostra que o cenário pessimista apresenta menores valores de risco em relação ao cenário otimista. Isso pode ser considerado um erro?
Para fazer essa análise, é necessário verificar os níveis inferiores da hierarquia de dados do AdaptaBrasil para identificar o principal modulador desses dados.
Atualmente, os únicos indicadores que variam no tempo dentro da plataforma AdaptaBrasil MCTI são os relativos a dados climáticos, portanto, são esses dados que estão afetando as mudanças futuras do índice de risco. Iremos analisá-los com profundidade a partir de agora.
A Figura 2 apresenta a ameaça climática de seca para o mesmo período, e percebe-se que o padrão se mantém. Ou seja, o cenário otimista indica uma MAIOR SEVERIDADE A SECA em relação ao cenário pessimista.
Algumas regiões litorâneas têm se destacado pela ocorrência de eventos extremos de precipitação intensa, principalmente quando confrontamos os cenários RCPs. Esse fato corrobora com a Figura 2, visto que o cenário pessimista apresenta menor probabilidade na ocorrência de seca do que o cenário otimista.
Para entendermos melhor o que está afetando o comportamento da ameaça climática, iremos avaliar o comportamento dos indicadores simples utilizados na sua composição:
- Indicador de Dias Consecutivos Secos (CDD – Consecutive Dry Days)
- Índice Padronizado de Precipitação-Evapotranspiração (SPEI – Standarized Precipitation-Evapotranspiration Index).
Na Figura 3, podemos observar que o comportamento espacial do CDD demonstra o esperado, isto é, um aumento de dias consecutivos secos no cenário pessimista.
No entanto, quando observamos as informações referentes ao SPEI, identificamos que o padrão pessimista é bastante suavizado, o que nos leva a questionar:
Se temos um aumento no número de dias consecutivos secos e a temperatura tem demonstrado diversos indícios de aumento, então o que pode ter ocorrido para uma avaliação que considera a diferença entre a precipitação e a evapotranspiração ser positiva?
A principal resposta está atrelada a eventos de chuvas intensas concentrada em poucos dias ao longo do ano. Ao avaliar o CDD para a região litorânea do estado de Pernambuco, podemos considerar chuva normal distribuída ao longo do ano.
Como complemento, a informação referente a chuvas intensas (para esta região) está mais detalhada nos Setores Estratégicos Segurança Alimentar – Chuva e Desastres Geo-hidrológicos.
Dúvidas sobre o AdaptaBrasil MCTI?
Envie sua pergunta por meio deste formulário.
Saiba mais sobre o AdaptaBrasil MCTI.
Siga-nos no Instagram e X/Twitter.