AdaptaBrasil publica novos dados sobre biodiversidade, saúde, recursos hídricos e segurança alimentar

A plataforma AdaptaBrasil passou a disponibilizar novos setores e dados revisados, que oferecem uma visão estratégica sobre os impactos da mudança do clima em todos os municípios brasileiros. A atualização, publicada nesta terça-feira (19), inclui a incorporação do setor de Biodiversidade e a revisão das análises referentes aos Setores Estratégicos Saúde, Recursos Hídricos e Segurança Alimentar.
Segundo a secretária de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Andrea Latgé, ao disponibilizar informações sobre risco climático, o AdaptaBrasil desempenha um papel importante no apoio à formulação de políticas públicas baseadas em evidências. “O AdaptaBrasil é uma das iniciativas mais bem-sucedidas do MCTI voltada para a coprodução de evidências que subsidiam políticas públicas", avalia. Latgé destaca que a boa aceitação da plataforma reside no arranjo institucional protagonizado por gestores públicos, pesquisadores e técnicos, além da estreita colaboração técnica com diferentes instituições.
“O AdaptaBrasil reúne capacidades estatais de diversos entes federais, além de instituições científicas de excelência na agenda climática. Ressalto ainda a importância crescente que a plataforma tem assumido na construção do Plano Clima Adaptação, coordenado pelo MMA com o apoio técnico do MCTI", afirma a secretária.
Para o coordenador científico do AdaptaBrasil e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Jean Ometto, o lançamento dos novos dados é um avanço importante no fortalecimento da disponibilização de informações baseadas em evidências para o apoio à tomada de decisão. “O AdaptaBrasil vem se consolidando como uma importante fonte de informações para estratégias e planos de adaptação, desde o nível municipal até o federal. Isso só é possível porque é uma plataforma lastreada na ciência, desenvolvida em colaboração com importantes instituições nacionais, além de ser de acesso livre para toda a população”, destaca Ometto.
Conheça os novos dados disponíveis no AdaptaBrasil
Biodiversidade - O Setor Estratégico Biodiversidade foi criado para apresentar projeções e cenários ligados ao impacto das mudanças climáticas sobre os biomas brasileiros e fornecer informações científicas para orientar políticas públicas de proteção à diversidade biológica do país.
Peter Mann de Toledo, pesquisador titular do INPE e uma das lideranças científicas envolvidas na construção dos dados, explica que o setor surgiu justamente porque o Brasil detém 20% da biodiversidade mundial. “Tratar essa riqueza como prioridade e inseri-la no contexto de risco climático é essencial para compreender como o clima pode afetar a biodiversidade brasileira”, afirma.
O Setor aborda os seis biomas presentes no território brasileiro (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa). Eles foram priorizados porque representam uma escala fundamental de análise e compreensão da biodiversidade, uma vez que abrangem períodos evolutivos significativos e permitem avaliar a integridade e a resiliência dos ecossistemas diante das mudanças climáticas e de outros impactos ambientais.
O Setor foi desenvolvido em colaboração com a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), o Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr) e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
Saúde - Em sua nova versão, o AdaptaBrasil passa a disponibilizar um módulo dedicado às arboviroses. Os dados envolvem mapas e indicadores que estimam o risco em nível municipal no presente, em 2030 e em 2050. Desenvolvido em parceria com a Fiocruz, o novo módulo incrementa o Setor Saúde, que já apresentava dados sobre malária, leishmaniose tegumentar americana (LTA) e leishmaniose visceral (LV).
Em 2024, o Brasil registrou mais de 6,5 milhões de casos prováveis, considerado o maior surto da doença. Na avaliação de Sandra Hacon, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP-Fiocruz) e uma das lideranças científicas do Setor, a emergência climática tem um papel central nesse cenário. “A temperatura mínima aumentou. O que antes era 15°C a 16°C em algumas regiões, agora ultrapassa os 22°C à noite – caso de Brasília, por exemplo. Isso prolonga o tempo de exposição humana aos mosquitos e facilita a reprodução desses vetores”, explica.
Além do fator climático, os dados do AdaptaBrasil apontam que determinantes sociais, como urbanização desordenada (ou a falta de urbanização), saneamento, coleta de lixo e abastecimento com água potável, combinados a alta densidade populacional, também contribuem para a proliferação dos vetores. “A emergência climática tem contribuído para essa situação, mas não é o único fator. O desmatamento e a destruição de ecossistemas também abrem caminho para que os vetores entrem em contato com os humanos. Ignorar essa realidade torna o cenário de exposição ainda mais favorável ao mosquito. A emergência climática deve estar no centro das políticas públicas para evitar impactos ainda maiores na saúde pública e no meio ambiente”, frisa a pesquisadora.
Recursos Hídricos - A nova versão do Setor Recursos Hídricos, construída em parceria entre o INPE e a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), reúne 38 indicadores que permitem analisar o risco de impacto das mudanças do clima nas águas superficiais e subterrâneas disponíveis para o uso humano.
O Setor avalia os recursos hídricos do ponto de vista da Disponibilidade e do Acesso na perspectiva da garantia da segurança hídrica para os diversos usos da água, incluindo o abastecimento humano, a manutenção dos serviços ecossistêmicos de regulação hídrica, o desenvolvimento de atividades socioeconômicas e a manutenção da saúde e bem-estar.
“A água, assim como a mudança climática, é um tema profundamente transversal. Quando falamos de segurança hídrica, inevitavelmente estamos olhando também para energia, agricultura e qualquer atividade que dependa do recurso”, conta Saulo Aires de Souza, coordenador de Mudanças Climáticas da ANA e uma das lideranças científicas do Setor.
A nova versão conecta o risco de escassez hídrica (Ameaça) ao risco de estresse hídrico (resultado da interação da Ameaça com a Vulnerabilidade e a Exposição socioecológica), contemplando riscos em cascata que se iniciam no clima, atravessam o ciclo hidrológico e impactam na sociedade.
Souza destaca que a versão 2.0 do Setor Estratégico Recursos Hídricos existe para apoiar o tomador de decisão. “Ele precisa saber do pior para se preparar. A partir daí entram as ferramentas de adaptação. Se o quadro crítico acontecer, já existem meios de mitigar o impacto; se não acontecer, também não podemos sair fazendo obras caríssimas que possam virar ‘elefantes brancos’. Por isso falamos em ‘estratégias de baixíssimo arrependimento’: em qualquer futuro, reduzir perdas nos sistemas de distribuição de água é bom; em qualquer futuro, investir em educação e capacitar gestores é bom; soluções baseadas na natureza também entregam benefícios que vão além da questão hídrica”, explica.
Segurança Alimentar - A atualização deste Setor Estratégico mapeia como o clima afeta a produção, o acesso e o consumo de alimentos no Brasil. A estrutura do Setor foi redesenhada para trabalhar com impactos em cadeia e está organizada em dois subsetores: Disponibilidade de Alimentos e Acesso e Consumo de Alimentos. Entende-se por Disponibilidade a capacidade produzir e colocar à disposição da população os alimentos in natura para uso doméstico. Acesso e Consumo engloba a garantia de que toda a população tenha acesso econômico e físico a alimentos nutritivos de forma segura e socialmente aceitável.
A metodologia considera as quatro dimensões da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) - disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade - e entrega mapas comparáveis por município no presente, em 2030 e em 2050, para orientar políticas de adaptação.
“Nosso trabalho foi construir indicadores que representassem os fatores que impactam as diversas culturas agrícolas e calibrá-los com base na experiência regional da Embrapa. É um esforço grande sintetizar décadas de dados para traduzir em mapas e métricas que façam sentido para o Brasil de hoje”, explica Aryeverton Fortes de Oliveira, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital e uma das lideranças científicas do Setor.
A nova estrutura do Setor foi desenvolvida com apoio técnico da Embrapa, do Instituto Nacional do Semiárido (INSA) e da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). A colaboração permitiu aprimorar os indicadores e torná-los mais sensíveis às realidades regionais e produtivas do país.
Sobre o AdaptaBrasil
O AdaptaBrasil é uma plataforma pública que mapeia riscos climáticos no país e oferece dados e indicadores para apoiar políticas de adaptação.
A plataforma produz informações a partir de dados públicos e análises colaborativas de especialistas de diferentes instituições, oferecendo não apenas índices abstratos de risco, mas também dados concretos que podem subsidiar a tomada de decisão por gestores públicos e pela sociedade em geral. Esses insumos passam por padronização e validação metodológica, permitindo comparar territórios, identificar fatores que mais pesam no risco local e priorizar investimentos. Em um só ambiente, reúne informações sobre ameaça climática, exposição e vulnerabilidade, traduzidas em mapas comparáveis por município e projeções para diferentes horizontes temporais e cenários.
A plataforma AdaptaBrasil é desenvolvida por meio de cooperação entre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a Rede Nacional de Pesquisa e Ensino (RNP) e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Atualmente, é uma das bases científicas utilizadas para a construção do Plano Clima Adaptação e apontada na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) brasileira para prover informações sobre risco climático nacional.
Acesse o site do AdaptaBrasil e conheça os novos dados.