Estudo propõe soluções financeiras para impulsionar a adaptação climática no Brasil

Entre 2014 e 2023, eventos climáticos extremos destruíram 1,5 milhão de moradias no Brasil, afetando 5 milhões de pessoas e gerando prejuízos de R$ 432,17 bilhões. Só as enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024, custaram R$ 60,9 bilhões, segundo dados registrados no Siafi (Sistema integrado de Administração Financeira do Governo Federal).
Esse é o cenário apresentado pelo relatório Estratégia para Financiamento do Plano Clima – Adaptação e Resiliência Climática, elaborado pelo Instituto Talanoa em parceria com o ERM NINT e Brazil-UK PACT. “Com o planeta 1,3°C mais quente, os custos da inação climática já batem à porta”, alerta o documento.
A partir dessa realidade, o estudo, que usa dados do AdaptaBrasil como referência para ilustrar a vulnerabilidade climática dos municípios brasileiros, propõe caminhos para o desenvolvimento de soluções capazes de ampliar a capacidade de resposta aos riscos climáticos no país.
Caminhos para viabilizar o financiamento da adaptação
O relatório analisa as oportunidades, os desafios e as condições necessárias para estruturar o financiamento à adaptação no contexto brasileiro. Para isso, apresenta um diagnóstico da situação atual, uma visão ambiciosa de alcançar R$ 100 bilhões em investimentos nos próximos cinco anos – evitando até R$ 1 trilhão em perdas e danos – e as prioridades estratégicas para o momento.
O estudo também destaca que o avanço da adaptação climática no Brasil depende da aplicação de instrumentos financeiros que tornem as iniciativas viáveis com impacto mensurável. Entre eles, estão:
- Cat bonds (títulos de catástrofe), que transferem riscos de desastres naturais ao mercado de capitais;
- Títulos vinculados à sustentabilidade. Conhecidos como SLBs (do inglês Sustainability-Linked Bonds), são instrumentos financeiros que permitem ao emissor captar recursos com liberdade de uso, desde que cumpra metas mensuráveis previamente acordadas;
- Seguros paramétricos, que aceleram pagamentos diante de eventos climáticos predefinidos;
- Estruturas de blended finance, que combinam recursos públicos, privados e filantrópicos para viabilizar projetos com risco ajustado – especialmente em territórios vulneráveis onde o capital privado sozinho não chega.
Por fim, o relatório apresenta cinco pilares estratégicos para estruturar e ampliar o ecossistema de financiamento à adaptação no país:
Mobilizar capital para adaptação
A estratégia propõe reorientar instrumentos existentes, como PAC, Fundo Clima, Eco Invest e Cofiex, além de atrair novos recursos por meio de doações, garantias públicas e mecanismos catalíticos que combinem capital público, filantrópico e privado.
Organizar a infraestrutura financeira e institucional
O relatório recomenda fortalecer plataformas como o BIP (A Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica) e estruturar uma “plataforma país” de blended finance, conectando bancos públicos, programas territoriais e mecanismos federais para canalizar recursos com escala e coordenação.
Coordenar a governança climática e financeira
A proposta inclui o estudo de modelos para a criação de um Sistema Único de Adaptação e Resiliência Climática (SUAC), inspirado em experiências federativas como o SUS (Saúde) e o SUAS (Assistência Social). O objetivo seria articular, de forma descentralizada, o financiamento e a execução de projetos de adaptação em todo o território nacional, fortalecendo também a articulação entre órgãos como o CIM (Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima), a Cofiex (Comissão de Financiamentos Externos), o CGPAC (Comitê Gestor do Plano Clima) e o Conselhão.
Utilizar os instrumentos financeiros adequados
Para tornar os projetos de adaptação viáveis e atrativos, o estudo propõe ampliar o uso de garantias, subvenções e instrumentos inovadores como os SLBs de adaptação, os cat bonds e os seguros paramétricos. Também sugere integrar a Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB) à rastreabilidade dos investimentos em adaptação.
Apoiar projetos nos territórios
A estratégia sugere assistência técnica e financiamento direto a prefeituras, consórcios e comunidades locais, com foco na qualidade técnica, impacto mensurável e inclusão social. Também defende a criação de carteiras temáticas por bioma, setor ou grupo social, como soluções baseadas na natureza (SbN) para o semiárido ou favelas urbanas.
→ Acesse o relatório completo: Estratégia para Financiamento do Plano Clima – Adaptação e Resiliência Climática