Estratégias e ferramentas para aumentar a resiliência climática das empresas

Especialistas revelam como o setor privado pode utilizar a plataforma AdaptaBrasil e o sistema SIRENE Organizacionais para aumentar sua resiliência frente às mudanças climáticas
Estratégias e ferramentas para aumentar a resiliência climática das empresas

Você já ouviu falar no Pacto Global?

Trata-se de uma iniciativa da ONU que tem como objetivo convocar empresas de todo o mundo a alinhar suas operações e estratégias aos 10 princípios universais nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção. 

Criada em 2003, a Rede Brasil do Pacto Global é hoje a segunda maior rede local do mundo, com quase dois mil participantes e mais de 50 projetos que abrangem principalmente os temas água e saneamento, alimentos e agricultura, energia e clima, direitos humanos e trabalho, anticorrupção, engajamento e comunicação. 

“Nosso propósito é transformar as estratégias empresariais em prol do desenvolvimento sustentável de um Brasil que não deixe ninguém para trás”, conta Flávia Martins, Chief Marketing Officer do Pacto Global no Brasil.

Na semana passada, a Rede Brasil do Pacto Global promoveu um webinar para apresentar três instrumentos que auxiliam empresas na redução de riscos climáticos, no planejamento de infraestruturas resilientes e na melhoria da administração de recursos naturais: 

  • O sistema SIRENE Organizacionais
  • A plataforma AdaptaBrasil MCTI
  • E o Movimento Net Zero

SIRENE Organizacionais

SIRENE Organizacionais é uma plataforma desenvolvida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com o objetivo de dar segurança e transparência ao processo de confecção de inventários de emissões de gases de efeito estufa (GEE).

A ferramenta dá suporte à tomada de decisão no âmbito de políticas, planos, programas e projetos na área de mudança do clima – no que tange à geração de conhecimento científico e adoção de medidas de mitigação –, consolidando um banco de dados padronizado de forma abrangente para todo o território nacional.

Renata Grisoli, especialista em transparência climática e revisora internacional pela Convenção do Clima de Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa, conta que o SIRENE é voltado para os setores público e privado e pode ser utilizado por organizações nacionais de todos os setores e tamanhos.

Com o SIRENE, as empresas não apenas encontram caminhos para aumentar sua resiliência frente às mudanças climáticas, mas também ajudam a disseminar a cultura de elaboração de inventários e contribuem para que o Brasil melhore o Inventário Nacional de Emissões de GEE e atinja suas metas climáticas, as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).

“Quando sei quais são minhas maiores fontes de emissão, consigo direcionar esforços para implementar ações de mitigação e redução dessas emissões, contribuindo para que as ambições do país de uma forma geral sejam atingidas. Além disso, quando temos o relato dessas emissões via SIRENE, e conseguimos acessar esses dados, eles subsidiam aprimoramentos do próprio inventário nacional. 

Assim, conseguimos estabelecer fatores de emissão mais representativos para a situação nacional e para a realidade das organizações. Todas essas informações contribuem diretamente para que esses esforços sejam fomentados”, analisa Grisoli, que atualmente é coordenadora técnica do projeto da Quinta Comunicação Nacional e Relatórios Bienais de Transparência do Brasil à Convenção do Clima (UNFCCC), sob a gestão do MCTI.

Conheça o SIRENE Organizacionais

AdaptaBrasil MCTI

O AdaptaBrasil foi apresentado no webinar da Rede Brasil do Pacto Global como uma ferramenta que pode ser utilizada por empresas que desejem realizar análises de riscos climáticos, planejar infraestruturas resilientes e melhorar a gestão de recursos naturais.

Cassia Lemos, engenheira ambiental e doutora em ciência do sistema terrestre pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), destacou que as mudanças climáticas são uma realidade. Portanto, é fundamental que as organizações pensem em oportunidades de negócio que podem surgir ao se adaptarem a esse cenário.

“Pensando na questão do risco do negócio, há uma frase do [Winston] Churchill que eu gosto bastante: ‘um pessimista vê uma calamidade em cada oportunidade’. Às vezes, nesse contexto de crise climática, podemos pensar que é o caos, mas também podemos ter outra visão: um otimista vê uma oportunidade em cada calamidade”, reflete.

Além disso, Lemos, que também é assessora de conteúdo da AdaptaBrasil, apresentou dicas práticas sobre como uma empresa pode utilizar os dados do sistema. 

“Em recursos hídricos, por exemplo, a plataforma apresenta vários índices relacionados à seca. Se sua empresa está ou será instalada em um município, quais são os indicadores que causam a seca ali? Como posso me adaptar para reduzir o risco de impacto no meu negócio? Considerando outros setores, como segurança alimentar, segurança energética, infraestrutura portuária (para escoamento de produtos para o mercado externo), ferrovias e rodovias (para produção interna), você consegue acessar vários indicadores para estruturar as ações de adaptação do seu negócio”, exemplifica.

Por fim, Lemos sugeriu usar os dados disponíveis na AdaptaBrasil como uma janela para a inovação: “O aumento dos eventos de chuvas intensas é um fato. Como posso alterar meu modelo de negócio para minimizar os impactos das inundações? E quanto aos produtos e serviços, o que devo adaptar na entrega, nos processos internos e na gestão administrativa? Qual inovação posso trazer para meu modelo de negócio?”, provoca.

Navegue pela plataforma AdaptaBrasil para saber mais

Movimento Ambição Net Zero

Encerrando o webinar, Maria Fernanda Pistori, analista sênior de clima do Pacto Global, apresentou o movimento Ambição Net Zero, que busca trabalhar com o setor empresarial brasileiro para que, individualmente, as organizações estabeleçam metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) baseadas na ciência.

“A ambição coletiva é alcançar, até 2030, uma redução acumulada de emissões de duas gigatoneladas. Para isso, é necessário que as empresas que se comprometem com o movimento cumpram duas metas principais: publicar seu inventário de emissões de gases de efeito estufa em até 12 meses (e recomendamos que seja validado por uma terceira parte) e alinhar essas reduções à iniciativa Science Based Targets”, explica.

Para aderir ao Movimento Ambição Net Zero, a empresa precisa fazer parte do Pacto Global. “O Pacto oferece diversas atividades e agendas para apoiar as empresas no cumprimento de suas metas. Temos cursos de capacitação, um pilar para a cadeia de valor, engajamento de alta liderança e constantemente realizamos agendas de benchmark e visibilidade. Acreditamos no compartilhamento de boas práticas para aprender juntos e potencializar as ações individuais na temática de clima”, conclui Pistori.

→ O webinar completo está disponível no YouTube. Clique aqui para assistir.

Leituras complementares:

Cinco pontos para a próxima geração de planos climáticos nacionais (NDCs) | WRI Brasil.

MUDANÇA DO CLIMA 2023 - Relatório Síntese (IPCC)

Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima — Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

SIRENE Organizacionais é apresentado durante evento que abordou a qualidade das informações dos inventários organizacionais